“A conversão de veículos a combustão para elétricos pode ser uma grande oportunidade para Portugal, que tem know-how e matérias-primas e poderá criar uma indústria de referência e uma economia circular e de proximidade que gera receita fiscal”. A convicção é do presidente da EcoMood Portugal e foi expressa num dos painéis de debate do evento “On Mobility” que esta Associação para a Promoção Solidária da Sustentabilidade na Mobilidade Humana organizou em parceria com a Câmara Municipal da Amadora.
António Gonçalves Pereira moderou um painel de troca de ideias, no qual um conselho académico de professores, investigadores, empresários e outros players demonstraram a validade da conversão de veículos a combustão para elétricos e híbridos enquanto solução para uma mais rápida e eficaz descarbonização dos transportes.
8 mil euros a converter
Segundo o presidente da EcoMood Portugal, o investimento na conversão de viaturas a combustão para elétricas ainda é gigantesco na perspetiva de uma empresa que pretenda converter toda a frota. “No entanto, é muito mais reduzido e ambientalmente sustentável do que o abate da frota seguido da compra de veículos elétricos novos – que em muitos casos ainda nem existem para as mesmas necessidades ou dimensões”.
De acordo com o que foi partilhado na conferência, os dados demonstram que, atualmente, a conversão de um furgão a combustão para híbrido poderá custar cerca de oito mil euros, prevendo-se que daqui a dois ou três anos estes valores sejam muito mais baixos.
Solução transitória a custo reduzido
Os especialistas presentes consideraram que a conversão para híbrido é uma solução transitória para as empresas ou particulares que desejem enveredar por veículos mais amigos do ambiente a um custo reduzido, podendo representar metade do consumo de combustível numa empresa de distribuição urbana, o que permite amortizar rapidamente o investimento.
Ajuda a atingir metas de descarbonização
Na perspetiva da EcoMood Portugal, a conversão de veículos implica uma democratização dos EV, dado que mais rapidamente as pessoas que não têm capacidade de compra de um híbrido poderão ter carros elétricos. “Além disso, é uma oportunidade para Portugal em termos do cumprimento das metas de descarbonização, criação de emprego e de receita fiscal, dando espaço para todos, desde os fabricantes multinacionais às PME e grandes empresas a todos os níveis”, aponta Gonçalves Pereira.
Todos os contributos são necessários
Teresa Ponce Leão, presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e da Associação Portuguesa de Veículos Elétricos (APVE) concorda que “para que sejam implementadas as medidas propostas pela Comissão Europeia com os compromissos dos países vamos precisar de todos os contributos e a transformação de veículos a combustão para elétricos, assim como a aposta na produção de baterias”.
A investigadora, que é também vice-presidente da European Sustainable Energy Innovation Alliance, destacou que um dos processos que convergem para acelerar estas medidas são as recém-criadas alianças da UE, nomeadamente a Aliança para as matérias-primas, que prevê a exploração responsável dos recursos no subsolo, entre os quais o lítio, usado na fabricação de baterias elétricas.
Falta legislar e incentivar
No entendimento dos oradores no painel sobre transformação de veículos a combustão para EV, uma das principais lacunas em Portugal é a inexistência de legislação e de incentivos à conversão de veículos, ao contrário do que acontece em países como Inglaterra, França e Holanda, por exemplo.
“Falta criar regulamentação na lei do Código da Estrada, como existe para os veículos a GPL, certificar os transformadores, homologar kits e agilizar processos no IMT (Instituto de Mobilidade e Transportes)”, enumera António Gonçalves Pereira.
Henrique Sánchez, presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) concorda que a legislação não tem acompanhado as necessidades e já se reuniu com o secretário de Estado da Mobilidade e com o Ministro do Ambiente para solicitar a simplificação do quadro legal que envolve a conversão para veículos elétricos. “É muito complicado homologar um veículo elétrico em Portugal. Temos associados que converteram os seus veículos clássicos ou de competição para elétricos e que esperam a homologação há nove anos”, confidencia.
A UVE propõe também que a atribuição de incentivos às empresas e aos particulares para a aquisição de viaturas elétricas seja alargada à conversão de veículos elétricos. Um objetivo ao qual a EcoMood acrescenta outros, nomeadamente o incentivo extra para veículos profissionais, atribuição de dístico de conversão, atribuição de estatuto de interesse público aos transformadores, assim como benefícios fiscais a cidadãos e empresas que apostem em veículos convertidos.