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resumo: Apresenta-se a correspondência actualmente conservada no Arquivo Histórico do Instituto Geológico e Mineiro (IGM), com interesse para a história da Arqueologia em Portugal, a qual ainda não tinha sido objecto de estudo arquivístico e documental, de que se encarregou um dos autores (A. A. M.). 0 outro dos autores (J. L. C.) encarregou-se, sobretudo, da análise de cada documento, procurando-se através de breves comentários integrar as questões referidas, bem como os seus intervenientes, na respectiva época, e, dentro do possível, no âmbito das grandes questões científicas que então se discutiam. Em tal discussão, tanto Carlos Ribeiro como Nery Delgado tiveram papel dominante, correspondendo-se com os vultos, mais destacados da época: Barão de Baye; de Marsy; Barboza du Bocage; H. Howorth; H. Schliemann; Boucher de Perthes; E. Dupont; Casalis de Fondouce e Estácio da Veiga, entre outros. Avultam os documentos relativos à IX Sessão do Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Hístóricas de 1880, realizado em Lisboa. O conjunto é valorizado pela existência de minutas de resposta a alguma da correspondência recebida pelos dois eminentes pré-historiadores portugueses. Transcrevem-se, ainda, na íntegra, dois documentos autobiográficos, redigidos por Nery Delgado e por Carlos Ribeiro, também inéditos.Com a publicação destes documentos, salienta-se o papel desempenhado na investigação arqueológica pelos membros da Segunda Commissão Geológica de Portugal (1857-1868), bem como pelos organismos que, com outros nomes, lhe sucederam, a Secção dos Trabalhos Geológicos de Portugal (1869-1886) e a Commissão dos Trabalhos Geológicos de Portugal (1886-1892), corporizando a chamada “Idade de Ouro” da Arqueologia Portuguesa.
resumo: A deformação varisca nos sectores mais setentrionais da Formação da Brejeira, que corresponde às partes distais do Flysch do Baixo Alentejo, origina uma sequência de dobramentos com geometria em chevron. Estudos de pormenor, realizados ao longo de um corte de 6 km na zona do Cabo de S. Vicente, mostram que a estruturação principal é devida ao que podemos designar por D1 Varisca. As estruturas atribuíveis a esta fase podem ser interpretadas em termos de uma forte deformação progressiva. Num estádio precoce ter-se-ão desenvolvido dobras monoclínicas fortemente vergentes para SW; nas litologias mais pelíticas, estas dobras chegam a ser do tipo isoclinal, associadas a cavalgamentos sub-horizontais. Os encurtamentos mais tardios da estrutura, mas que ainda podem ser considerados como D1, foram conseguidos através da génese de uma série de dobras com planos axiais NW-SE, subverticais, que redobram as estruturas anteriores. As estruturas D1, terão sido geradas em condições superficiais, pelo que a clivagem está apenas restrita aos domínios mais deformados.Após este episódio tectónico, é possível evidenciar nesta região uma segunda fase de deformação varisca (D2), que ocorre ainda em condições dúcteis a semidúcteis. Esta deformação é do tipo não-penetrativo, gerando corredores de cisalhamento esquerdos NE-SW a NNE-SSW. Estes corredores de cisalhamento constituem planos de anisotropia que apresentam uma orientação favorável à sua reactivação durante a deformação alpina associada à abertura do Atlântico. Esta reactivação origina descontinuidades frágeis e com uma componente predominantemente de falha normal que afecta o Triásico que se encontra discordante sobre as formações de idade carbónica.
resumo: A análise da fracturação que afecta os depósitos neogéneos e quaternários da cadeia do Médio Atlas permite pôr em evidência quatro episódios sucessivos. O primeiro de idade valesiana, miocénica superior e pliocénica inferior corresponde a um paleocampo de tensões cujo S1 está orientado N 120-140 e S3, N 30-50, (com permuta de eixos S1– S2 e S2– S3).O segundo episódio de idade pliocénica médio-superior é caracterizado por S1 vertical e S3 orientado N 160. No Quaternário, os paleocampos são caracterizados por eixos S1 e S3 respectivamente orientados N 30 e N 120 (Quaternário antigo-médio) que rodam respectivamente para N 170 e N 80 (Quaternário médio-recente).
resumo: Na zona de Kasbat-Tadla-Azrou, pertencente à meseta marroquina, os magmatitos da região de Bou Ibenrhar-Jbel Hadid mostram composições geoquímicas variadas que vão desde os basaltos aos riólitos. Estas rochas, intercaladas entre o soco infracâmbrico e os grés quartzíticos atribuídos ao Câmbrico-Ordovícico, pertencem a duas sequências subalcalinas, relacionadas com um ambiente orogénico transicional de margem continental activa. A primeira destas sequências deriva de um manto relativamente empobrecido do tipo MORB, enquanto a segunda se gerou a partir de uma fonte menos empobrecida, traduzindo o envolvimento da litosfera subcontinental subjacente.A ausência de dados estratigráficos e geocronológicos precisos, e em presença de unia deformação intensa, várias hipóteses são consideradas para explicar a génese deste magmatismo num contexto perigonduânico.
resumo: Os métodos de prospecção geofísica têm sido usados tradicionalmente com sucesso como técnicas não invasivas de investigação do subsolo, em particular, em prospecção mineira, petróleo e gás, engenharia civil, hidrogeologia, arqueologia e outros. Mais recentemente, desde os finais da década de setenta, aqueles métodos têm sido aplicados na resolução de problemas ambientais, i.e., contaminações, localização de objectos soterrados, caracterização de locais (p.e., aterros) e monitorização. De facto, as questões ambientais têm uma natureza tri- e tetradimensional intrínseca pelo que procedimentos analíticos tradicionais, ou seja, recolha e análise de solos, sedimentos, águas e observação de poços ou furos preexistentes podem levar a conclusões menos correctas sobre as condições locais.A contribuição da Geofísica é aqui analisada e justificada quer no estudo de condições locais quer na planificação de sondagens de investigação directa, através de alguns casos (contaminação industrial, lixeiras, invasão salina, cavidades subterrâneas) demonstrando-se que a Geofísica proporciona um conjunto de técnicas expeditas, não invasivas, económicas, embora indirectas, de superior interesse na resolução de problemas ambientais.
resumo: O “nível castanho”, datado do Toarciano inferior (Biozona Levisoni, Subzona Levisoni), aflora no Médio Atlas Setentrional. Aquela unidade mostra, lateralmente, grandes variações de espessura e de fácies.Considerando o Médio Atlas Norte-Oriental, o “nível castanho”, com carácter turbidítico, mostra sequências de Bouma, truncadas geralmente na base. São reconhecidas quatro subfácies de MUTTI & RICCI-LUCCHI (1975), e um tipo de fácies com organização caótica que resulta de deslizamento de sedimentos não consolidados. A abundância das fácies C e D pressupõe que o “nível castanho” corresponda a turbiditos distais, interrompidos momentaneamente por acumulações locais, depositados ao nível da parte externa de um leque submarino.
Estes calciturbiditos traduzem um episódio tectónico regional. Como consequência desse evento, resulta a emersão do Planalto médio-atlásico e da parte SW do Médio Atlas, onde os produtos de erosão alimentam o sector setentrional da bacia subsidente.
resumo: Para a caracterização da geometria fractal das redes de fracturas é frequentemente utilizado o método da dimensão de caixa.A determinação da dimensão fractal de caixa de sistemas de veios organizados em grauvaques e mármores e brechas hidráulicas em mármores mostra que objectos com complexidade distinta não conseguem ser discriminados pela dimensão de caixa. A aplicação da mesma metodologia em redes de fracturas geradas em computador, com o objectivo de não serem objectos fractais, mostra que também elas são indistintas dos exemplos naturais estudados.
A comparação da dimensão de caixa com a densidade de veios para os diferentes exemplos (naturais e gerados) mostra que existe uma covariação não linear entre os dois parâmetros.
A dimensão de caixa é um método inadequado para o estudo de redes de fracturas preenchidas quando se pretende caracterizar tais objectos do ponto de vista da geometria fractal.
resumo: A reconstrução das condições paleoceanográficas da Margem Portuguesa durante os últimos 30 14C ka é realizada através do estudo de múltiplos indicadores (Corg, CaCO3, Ba, foraminíferos planctónicos, isótopos de O e Q para 16 sedimentos superficiais colhidos por “box-core” e 4 “cores” de gravidade que constituem transectos N-S (41º-37º N) e E-W (37º 38º-37º 49º W).Os resultados obtidos para os sedimentos superficiais reflectem as condições de produtividade actuais e revelam erosão em ambos os limites superior e inferior da veia de Água Mediterrânica. Usando esses resultados como padrão estima-se que as condições de produtividade para os últimos 30 14C ka foram altamente variáveis tanto espacial como temporalmente. No Holocénico, a produtividade era mais elevada a norte (40º e 41º N). Aos 41º N os níveis holocénicos mantiveram-se durante os últimos 30 ka, enquanto a 40º N a produção decresceu entre os 20 e os 11 14C ka, ao mesmo tempo que os “cores” do Sul (37º N) registam um aumento da produção. Estes resultados contrariam a posição definida para a frente polar durante o Ultimo Glaciar Máximo (UGM) pelo grupo do CLIMAP, mas podem ser explicados pelo modelo de circulação proposto por Robison et al., 1995.
Máximos de produtividade indicados, tanto pelo aumento das espécies de foraminíferos que reagem ao afloramento costeiro como pelos valores de produção exportada estimados pela função SIMMAX 28, ocorrem a 22-20, 15-14 e 11-9 14C ka, associados às pulsações de “ice rafting” do Atlântico Norte. Níveis de produtividade semelhantes aos observados para o UGNI e que são muito provavelmente causados pela entrada de nutrientes ou da plataforma e/ou ao aumento das descargas dos rios que devem ter acontecido ao fim de cada ciclo.
resumo: Neste trabalho, são especialmente descritas fácies ricas em oncóides/cianóides presentes nas séries do Jurássico médio a superior basal das regiões de Tomar-Alvaiázere-Sicó (Bacia Lusitânica), abordando-se também aspectos paleoecológicos e alguns outros relacionados com outro tipo de estruturas organo-sedimentares e com estruturas pedogénicas. Faz-se, igualmente, a comparação entre estas ocorrências e outras documentadas em calcários do Jurássico de outros locais da bacia, salientando-se a utilidade destes calcários oncolíticos e pedogénicos como indicadores auxiliares para a cartografia geológica regional.Dois tipos principais de litofácies são considerados: litofácies de oncóides “espongiostromados” em calcários do Dogger dos cortes de Agroal e de Bofinho (região de Tomar); e litofácies de cianóides, em calcários da base do Malm de Agroal e de Aroeira (região de Sicó). A abundância e a diversidade morfológica dos cianóides, conjugada com certas microtexturas e características pedogénicas define um tipo muito específico de litofácies ao qual é dada especial atenção. Este é um dos vários tipos de fácies característicos da formação Cabaços, que é a primeira unidade depositada acima da megadescontinuidade Dogger-Malm na Bacia Lusitânica.
resumo: Para uma melhor avaliação dos riscos de poluição, recursos e qualidade da água, e casualidades geotécnicas e sísmicas, torna-se necessário um conhecimento detalhado da rede da fracturação em Portugal. Com esta motivação em mente, procedeu-se a um estudo detalhado da rede de fracturação numa área dominada por granitos a NE de Braga, NW de Portugal.As metodologias utilizadas na detecção de fracturas incluíam a análise geomorfológica em mapas topográficos e modelos digitais de terreno, e a interpretação de lineamentos em fotografias aéreas verticais e imagens de satélite. Esta interpretação geral, seguida de caracterização estrutural detalhada no campo, revelou três sistemas principais de fracturas subverticais: duas famílias predominantes, E-W a ENE-WSW e NNW-SSE, e um sistema subsidiário N-S a NE-SW. Os preenchimentos minerais de falha mais antigos e de mais alta temperatura (sobretudo agregados de quartzo mais grosseiro, turmalina e muscovite) preservam critérios de movimento predominantemente de desligamento – esquerdo no sistema E-W a ENE-WSW, e direito nas famílias NNW-SSE e N-S a NE-SW. A idade, a geometria e a cinemática sugerem que os sistemas NNW e NNE representem os conjugados direitos variscos do sistema esquerdo E-W a ENE-WSW. As rochas de falha mais jovens e de mais baixa temperatura (normalmente, farinhas de falha muito finas) indicam um movimento dominante de “dip slip” em todos os sistemas de falhas observados.
Realizaram-se também estudos de ASM para avaliação da deformação em rochas graníticas …
resumo: Cerca de 2 km a NNE do cabo de S. Vicente, no extremo SW da costa do Algarve, as arribas, com cerca de 60 m de altura e cortadas em dolomitos do Jurássico inferior, muito resistentes, sobrepostos às margas do Hetangiano, apresentam sinais da ocorrência de um grande escorregamento que afectou cerca de 0,85 km de arriba. Neste local, no topo da arriba, existem fendas de tracção grosseiramente paralelas à face exposta, cuja abertura está provavelmente relacionada com a ocorrência do grande escorregamento. Observações e medidas no terreno, complementadas por interpretação e medidas em fotografias aéreas permitiram a reconstrução preliminar de parte da geometria da massa deslocada e do movimento que a afectou, concluindo-se que se trata de um escorregamento profundo, com Componente rotacional dominante.A retroanálise preliminar do escorregamento mostrou que, em termos de solicitações estáticas, este é apenas possível considerando as características de resistência residual das margas hetangianas, ou seja, em condições típicas para a reactivação de uma rotura preexistente e, em consequência, não compatível com a geração do movimento inicial.
Neste trabalho é feita a descrição do escorregamento e são apresentadas características geotécnicas dos materiais envolvidos. São ainda apresentados resultados de retroanálises do movimento e debatidas as suas possíveis causas e factores desencadeadores. A informação obtida sugere que o escorregamento foi provavelmente desencadeado por forte acção sísmica.
resumo: Na região do Nordeste Alentejano (Portugal), situada no ramo sudoeste do Arco Ibero-Armoricano, foi reconhecida uma zona transcurrente e transpressiva, referida por zona de cisalhamento de Portalegre-Esperança (ZCPE), ao longo da fronteira paleogeográfica entre as zonas de Ossa-Morena (ZOM) e Centro-Ibérica (ZCI) (Maciço Ibérico). A ZCPE representa um troço de uma importante estrutura Varisca Ibérica desenvolvida sob condições de baixo grau metamórfico sobre rochas do Neoproterozóico e Paleozóico. Este registo estratigráfico inclui o soco Neoproterozóico da ZOM (Série Negra) sobre o qual assenta em discordância as sequências sedimentares da ZCI com quartzitos Armoricanos.A análise estrutural da ZCPE permite identificar uma arquitectura tridimensional complexa que se caracteriza pela presença de: distintas texturas de deformação desenvolvidas em quartzitos e rochas quartzo-feldspáticas; foliação milonítica muito inclinada e lineação de estiramento de baixo ângulo; movimentações do tipo desligamento sinistrógiro e do tipo oblíquo (inverso ou normal) observada ao mesmo nível de afloramento, relacionadas com variações sistemáticas no mergulho da lineação de estiramento paralelamente ou perpendicularmente à direcção da zona; falhas principais e planos axiais das dobras surgem com direcção paralela ou ligeiramente oblíqua à direcção da zona; e desenvolvimento de estreitas bandas de cisalhamento separando domínios onde é preferencialmente acomodado o cisalhamento puro.
A ZCPE é interpretada corno parte de uma importante zona transcurrente e transpressiva onde a partição da deformação e o transporte paralelo à direcção do orógeno representaram processos de deformação, ao longo do limite entre a ZOM e a ZCI.
resumo: Em 1857, é criada em Portugal a Comissão Geológica do Reino, cujo objectivo primordial seria o reconhecimento geral da constituição geológica das diferentes regiões do País. Mas, à medida que avançavam os trabalhos, lamentava-se a quase total ausência de elementos de estudo, nomeadamente a não existência de colecções de referência ou de comparação, de instrumentos essenciais às observações de campo, de livros e de publicações da especialidade. Era também unanimemente reconhecida a necessidade de estabelecer relações estreitas com instituições análogas existentes ira Europa e com cientistas dos grandes centros científicos.Neste sentido, a Comissão Geológica propõe ao governo português a ida de um dos seus membros ao estrangeiro, de modo a tentar colmatar as dificuldades apontadas. É então nomeado Carlos Ribeiro (1813-1882), engenheiro militar, para se deslocar a diversos países europeus, entre os quais França, Áustria, Alemanha, Itália e Espanha. Esta missão é efectuada entre 4 de Julho e 14 de Dezembro.
O presente artigo pretende evidenciar a contribuição desta viagem científica para desenvolvimento da geologia portuguesa nos anos 50-60 do século XIX, na medida em que se estabeleceram importantes contactos com eminentes geólogos europeus que se prontificaram a auxiliar, com os elementos necessários, a uma classificação dos espécimes paleontológicos e geológicos que iam sendo recolhidos em Portugal. Por outro lado, a aquisição de instrumentos e de bibliografia especializada muito viriam a contribuir para a permanente actualização dos conhecimentos nos vários domínios das ciências geológicas.