No dia 28 de fevereiro foi publicado o AR6 – 6º Relatório de Avaliação do Grupo de Trabalho do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) focando Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade*. O relatório, aprovado por 195 membros governos do IPCC, apela à ação urgente, necessária para lidar com os riscos crescentes. A principal mensagem é que as alterações climáticas são uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta e que a ação atempada pode garantir o nosso futuro comum.
Nas palavras de Hoesung Lee, Presidente do IPCC: “Este relatório reconhece a interdependência do clima, da biodiversidade e das pessoas e integra ciências naturais, sociais e económicas de forma mais coesa do que nas anteriores avaliações do IPCC”. Referiu ainda: “Enfatiza a urgência de ações imediatas e mais ambiciosas para lidar com os riscos climáticos. As meias-medidas já não são uma opção.”
O combate à crise climática não pode ser visto separadamente da preservação da biodiversidade e saúde dos ecossistemas, que fornecem serviços críticos para a vida no planeta como alimentos e água potável. Os cientistas envolvidos reforçam a ideia de que as alterações climáticas interagem com tendências globais, como o uso insustentável de recursos naturais, a urbanização crescente, as desigualdades sociais, perdas e danos de eventos climáticos extremos e mesmo uma pandemia. Torna-se assim vital restaurar, de forma eficaz e equitativa, os ecossistemas degradados e conservar os habitats, o que permitirá aumentar a capacidade da natureza de absorver e armazenar carbono, beneficiando todos nós. Para tal, torna-se essencial garantir financiamento adequado e o apoio político envolvendo governos, setor privado e sociedade civil.
As cidades, onde vivem mais da metade da população mundial, são especialmente destacadas e referidas como sendo focos de impactos e riscos, mas também como uma parte crucial da solução, por exemplo recorrendo a edifícios verdes, energia renovável, e sistemas de transporte sustentáveis.
O AR6 alerta para os cuidados a ter com medidas de adaptação, uma vez existem evidências crescentes de consequências negativas não intencionais da mesma, como por exemplo destruição de recursos naturais ou o aumento de emissões de gases de efeito estufa. As políticas de mitigação e de adaptação devem assim garantir o envolvimento de todos no seu planeamento, com especial atenção à equidade e justiça, sem descurar o conhecimento indígena e local.
O relatório afirma claramente que o desenvolvimento climaticamente resiliente já é um desafio com os atuais níveis de aquecimento global, podendo ser mais limitado se o aumento da temperatura global exceder 1,5°C. Em algumas regiões do planeta este desenvolvimento será mesmo impossível caso a temperatura global aumente acima dos 2°C. Esta é uma descoberta chave que sublinha a urgência da ação climática, com ênfase na equidade e na justiça, no financiamento adequado, na transferência de tecnologia e políticas de compromisso e parceria.
Estamos hoje perante uma janela de oportunidade para atuação que se está a estreitar.
No LNEG continuamos a colaborar para desenvolver e implementar medidas de mitigação e de adaptação, sustentáveis, equitativas e justas focando os sistemas energéticos e os recursos naturais.
Neste relatório foi citado o trabalho anterior de duas investigadoras atualmente na Unidade de Economia de Recursos do LNEG, Teresa Brás e Sofia G. Simoes, focando o tema dos impactes de eventos extremos na agricultura e da ação climática local em cidades europeias**. As duas investigadoras continuam as respetivas linhas de trabalho agora no LNEG, ao nível do impacte dos eventos extremos no setor elétrico europeu e aprofundando as medidas de adaptação em cidades.
Relatório AR6 aqui: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/
* O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas é composto pelos principais cientistas do mundo em temas como ciência do clima, bem como dos diversos setores impactados pelas alterações climáticas e envolvidos na sua mitigação e adaptação. São encarregues de publicar atualizações regulares e abrangentes do conhecimento global sobre a crise climática, destinadas a informar o desenho de políticas. Cada “relatório de avaliação” é resultado de processo exaustivo e complexo e demora entre cinco a sete anos a ser concluído, envolvendo centenas de cientistas que revêm o trabalho de outros milhares de especialistas. O relatório atual – publicado em quatro partes, de agosto de 2021 a outubro de 2022 – é o sexto desde que o IPCC foi criado em 1988.
**Artigos de investigadoras do LNEG citados no AR6:
- Reckien, D., Salvia, M., Heidrich, O., Church, J.M., Pietrapertosa, F., de Gregorio-Hurtado, S., d’Alonzo, V., Foley, A., Simoes, S.G. and Lorencová, E.K., (et al.) 2018. How are cities planning to respond to climate change? Assessment of 32 local climate plans from 885 cities in the EU-28. Journal of cleaner production, 191: 207-219 https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.03.220
- Reckien, D., Salvia, M., Pietrapertosa, F., Simoes, S.G., Olazabal, M., De Gregorio Hurtado, S., Geneletti, D., Krkoška 34 Lorencová, E., D’Alonzo, V., Krook-Riekkola, A., Fokaides, P.A., Ioannou, B.I., Foley, A., Orru, H., Orru, K., 35 Wejs, A., Flacke, J., Church, J.M., Feliu, E., Vasilie, S., Nador, C., Matosović, M., Flamos, A., Spyridaki, N.A., 36 Balzan, M.V., Fülöp, O., Grafakos, S., Paspaldzhiev, I. and Heidrich, O., 2019. Dedicated versus mainstreaming 37 approaches in local climate plans in Europe. Renewable and Sustainable Energy Reviews, 112: 948-959 https://doi.org/10.1016/j.rser.2019.05.014
- Brás, T. A., J. Seixas, N. Carvalhais and J. Jägermeyr, 2021: Severity of drought and heatwave crop losses tripled over 22 the last five decades in Europe. Environmental Research Letters, 16 (6), 065012 https://doi.org/10.1088/1748-9326/abf004